Ainda bem que eu segui as batidas aceleradas do meu coração

Lembra daquela bolada na boca do estômago que a gente leva na escola? Aquela sensação tão única e desagradável quanto bater o cóccix. Agora imagine viver com essa sensação por dias. Ou pior, anos.

Não é que eu pensasse a todo momento que algo de ruim ia acontecer. Aquela sensação só estava ali, constantemente. Pra ir ao mercado, pra ir ao trabalho, por pensar na festa de sexta feira à noite.

Fazia parte de mim, tipo um órgão. E a gente nunca se questiona do porquê de o nosso baço estar ali existindo.

Quando iniciei o meu rolê da terapia, levava em consideração o meu mental. O que passava dentro da minha cabeça e as emoções provenientes disso e acreditava aprendendo a lidar com isso, não teria mais grandes problemas na vida. A teoria é sempre linda, né?

A ficha começou a cair depois de algumas conversas com minha melhor amiga e seguindo o Instagram da psiquiatra dela, que faz conteúdos muito interessantes e desmistifica a àrea da psiquiatria (pra quem quiser seguir: @dra.daianaa). Ela falava sobre qualidade de vida e que viver em sofrimento não é o normal, não é aceitável.

Fiquei com uma pulguinha atrás da orelha. Eu estava bem, não estava? Eu tinha qualidade de vida? O que é ter qualidade de vida? Tá, peraí. Algo de errado não está certo.

Já tinha me deparado com crises de bruxismo na pandemia que me causaram contraturas no rosto, muita tensão no pescoço e ombros e uma dor de cabeça que me fazia querer arrancá-la. Um dia, em uma consulta com a quiro, ela me disse: “olha, o que a gente pode fazer pra aliviar, estamos fazendo, mas esses são sintomas psicossomáticos, seria bacana procurar uma terapia pra tratar a raiz do problema.“

Minha cara quando tive que dizer que já fazia terapia há quase 4 anos.

Aquilo que eu não queria aceitar estava cada vez mais materializado na minha frente, não me dando escolha de olhar para o lado. A sensação de que eu estava me encaminhando para buscar ajuda psiquiátrica era apavorante. Me descobri cheia de preconceitos, relutante para dar esse passo. O que isso diz de mim? Que falhei? Perdi? Estou traindo à minha psicóloga? Tive medo de falar com ela antes de contatar o psiquiatra. Será que não aguento mais um pouco assim? E viver “aguentando” já diz tanto.

Ao conversar com o psiquiatra, ouvi mais uma vez sobre a tal qualidade de vida. “Hoje a gente não tem mais que sobreviver, a gente precisa viver, viver bem e se tu sente que não está vivendo e que tua ansiedade está te causando esses desconfortos, então, vamos partir pro tratamento.”

Realmente, doutor. Que vida era aquela? Pobre bicha. Tentando sobreviver com uma respiração diafragmática. E não me entenda mal, eu adoro exercícios de respiração, mas AGORA com a medicação eles são eficientes pra mim.

Estava cética até o fim, esperando aquele remedinho rosa não fazer absolutamente nada. “O efeito do remédio começa em torno de 15 a 20 dias após o início do tratamento”. E eu todo dia daquele jeito “Será que já tô diferente?”. Pois bem, assim como na terapia tive muita sorte e dei match com a primeira terapeuta com quem conversei, na minha primeira viagem ao mundo dos antidepressivos, vivi uma experiência maravilhosa.

Então assim é viver sem uma bola de basquete entalada na garganta? Sem o coração acelerado e a falta de ar. Sem começar o dia completamente afogada e paralisada nos próprios pensamentos. Eu encontrei uma leveza no viver que antes, por mais esforço que eu fizesse, por mais claro que estivesse pra mim que eu podia ser feliz, que a minha vida era boa, eu não conseguia vivenciar. Tudo era muito pesado.

Me autorizar a buscar ajuda na medicação foi, como conclui em minha última sessão de terapia, um gesto de autocuidado. Agora sim, eu sou a Amanda que eu sinto aqui dentro. Encontrei a minha qualidade de vida e não tenho problema algum em atribuir a responsabilidade à indústria farmacêutica. 🤣

Assim como quem tem um problema de coração precisa fazer uso de remédios de forma contínua, muitas vezes nosso cerebrinho querido também precisa desse auxílio!

Sentir medo e vergonha é natural, mas viver de uma forma disfuncional, não. Por algum motivo, nos foi ensinado o inverso disso. Calar o que sentimos, engolir o choro e sobreviver, apenas.

Espero que esse texto tenha trazido o abraço que você precisa. Setembro amarelo é o mês de prevenção ao suicídio e meu relato vem pra te mostrar que existe beleza em viver e se você não enxergar isso agora, não se culpe e não tente resolver sozinho. Busque por pessoas que te ajudem a lidar com isso. Um dia de cada vez.

Já que está por aqui, aproveite pra ler os textos dos meus camaradas Jonas, Sara e Dallen. Falamos sobre vida, sentimento, trabalho, vivências. Sempre com o coração aberto. Ah, e eles são psicólogos, eu e Dallen não podemos consultar com eles, mas você pode! KKKKKKKK

Meu instagram é: @amandabaronio. Me siga lá e veja mais do que eu ando aprontando!

Lista de locais com atendimento psicológico gratuito ou à preço popular (algumas opções são direcionadas à Novo Hamburgo e região):

  • CVV – Ligue 188 ou visite https://www.cvv.org.br/
  • Centro integrado de psicologia da FEEVALE (campus II)
  • Serviço escola de psicologia da IENH
  • Pastoral SAS pastoral da saúde
  • CAPS
  • Ambulatório de saúde mental
  • Qualquer serviço de saúde do sus (eles farão o encaminhamento necessário)

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