03 respostas possíveis podem ter surgido na sua mente a partir desse título:
-Sim
-Não
-Depende
Tenho para te dizer o seguinte: TODAS as alternativas estão corretas. Deixa eu apresentar o print de uma seguidora no meu Instagram:

Agora deixa eu te apresentar as imagens que ela viu em que apareço com a alça à mostra (desculpe a qualidade ruim, na realidade não são fotos, são prints de stories).

Enquanto você mentalmente elabora seus argumentos a partir do que leu e viu até aqui, permita-me te mostrar um pouco dos meus.
A moda é um retrato do tempo. Podemos pensar que apenas nos vestimos, mas enquanto fazemos isso estamos escrevendo a História. Naturalmente, isso só vai ser público e notório para as gerações seguintes, assim como nós olhamos para as roupas de décadas passadas e conseguimos imaginar como as pessoas viviam.
Segundo o professor e consultor de história da moda da Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap), João Braga:
“Com a queda do espartilho, entre 1907 e 1908, a socialite americana Mary Phelps Jacob patenteou o primeiro sutiã, tal como conhecemos hoje, em 1914. A partir daí, em 1920, com a geometrização da Art Déco, surgiram os ‘achatadores de seios’, que chegavam até a altura da cintura e eram feitos de barbatanas de baleias ou pedaços de arames (…). Muitas mulheres aboliram completamente o sutiã nas décadas de 1960 e 1970, quando igualdade era a palavra-chave da juventude. A partir dos anos 1980, o sutiã voltou a ser usado como peça imprescindível”. (fonte: O Estadão 07/04/2011)
E antes disso, na Idade Média, os sutiãs chegavam a ser feitos de madeira para modelar o corpo, imaginem, verdadeiros instrumentos de tortura.
E hoje?
Hoje vivemos um tempo sem precedentes na História, um tempo em que nos é permitido ESCOLHER. Tudo, absolutamente, envolve escolhas, mas ficando só no campo do sutiã, é super estranho pra gente imaginar que nossas avós ou bisavós não tinham opção de cor, formato, renda, não renda, sintético, orgânico, meia taça, bojo, sem bojo, etc, etc. E essas escolhas – tão comuns pra nós – se refletem no modo como pensamos, agimos e julgamos as coisas.

Agora eu volto para o ponto inicial da nossa conversa: sim, não, depende. Todas essas respostas são perfeitamente plausíveis dentro dos contextos de cada cabeça.
Haverá quem pense “NÃO, de jeito nenhum, sutiã não pode aparecer, que vulgar, coisa de p*ta, sem noção”. Essa resolução interna pode ter raízes em vários pressupostos, como religião, criação, exemplo, trauma, bullying, gosto pessoal… quê mais?
Tantas coisas formam nosso pensamento, como vemos e vivemos no mundo… Então, a mulher que categoricamente diz NÃO PODE está certa sob SEU ponto de vista, dentro da sua bolha. E como não é uma decisão que envolva vida ou morte, tudo bem ela pensar assim, DESDE QUE suas convicções não interfiram na vida alheia. Sabe, há um bocado de coisas que eu ouço durante um atendimento mais prolongado na Consultoria de Estilo que percebo que têm a ver com a forma mais íntima de viver daquela pessoa. E não é uma opinião “embasada” minha que vai mudar algum coisa. Aí a solução que trago passa por “como temperar um joelho”, lembram? 😉
Já quem diz “SIM, pode aparecer, deve aparecer”, provavelmente já precisou desconstruir um bocado de coisas internamente, seja fazendo terapia, lendo, buscando expandir sua própria bolha. Às vezes sua formação familiar já vem mais aberta, permitindo mais concessões na vida. Novamente: muitas variáveis nos formam. O que eu observo é que geralmente a pessoa mais aberta, que aproveita ao máximo a liberdade de escolha que sabe que tem, pode ficar um pouco perdida no campo do estilo. Afinal, se pode tudo, o quê me cabe, o quê diz de mim, o quê eu vou usar disso tudo? Saio a la Madonna de Jean Paul Gaultier, uso “nada” como protesto à repressão ou me adapto a um monte de rendas e sustentação para ser mais feminina?

Para sair desse dilema, só mesmo fazendo aquela viagenzinha pra dentro, entendendo quais são os SEUS valores, qual é o SEU contexto. Aí as escolhas vão ficando mais claras, mais genuínas (ainda estamos falando de sutiã?).
Quem responde DEPENDE, geralmente pondera. Visita os campos do NÃO e do SIM e faz a conta do denominador comum. É bastante útil para quem trabalha com público e para quem não quer sair disparando “verdades” sincericidas, como se o mundo (mundo = a bolha das redes sociais) dependesse da sua opinião, que é a certa, óbvio. E também pra quem não quer passar vergonha julgando aleatoriamente (aviso de sarcasmo aqui).
Eu amei muito essa interação da seguidora, sabe? Fez com eu refletisse bastante e tivesse vontade de compartilhar. Ela se expôs, colocou seu ponto de vista atual e manifestou desejo de se abrir ao novo, tudo isso por ter visto uma imagem que passou rapidinho no scroll infinito do seu celular. Massa isso, achei bem lindo de sua parte.
Mas vem cá, alças de sutiã aparecendo, pode?
Contextualize. Onde você vai? Seu trabalho tem um dress code muito rígido, tipo ambientes corporativos ou repartições públicas? Não é recomendado. Manifeste sua intenção de outras formas, há tantas maneiras de parecer criativa, sensual, despojada, etc.
Todos os ambientes em que circulamos tem um código de conduta, quer seja claro, quer não. Cabe a nós nos adequarmos à eles, já que vivemos em sociedade e não estamos constantemente com uma bandeira em punho. O seu conforto é importante, mas o conforto do outro também. Empatia que fala, né?
Afora isso, permita-se experimentar, inovar, sair um pouco da sua zona de conforto. Pode ser que você descubra que gosta, que tem a ver com você, que imprime seus valores, seu humor, sua vibe no dia.
Que mais?
Eu acho sempre que esses assuntos rendem uma boa prosa. Te espero!
Dallen.
Confira: Trilha de Estilo