Como é que se chama uma peça de “couro fake”?
Essa pergunta veio pra mim numa caixinha que coloquei nos stories do Instagram quando estava falando sobre tecidos e suas diferenciações.
Achei fantástico e lembrei: aquilo que pra gente é matéria dada, pra outras pessoas pode não ser. Pensei mais: vou falar sobre isso no blog, pois merece ficar registrado.
Você já deve ter visto couro em diversos objetos além de jaquetas e sofás, certo? Acessórios, decoração e peças de roupas que olhando parecem até esvoaçantes de tão macias e de bom caimento. Sim, incrível. Esse é o resultado de cada vez mais pesquisa e tecnologia envolvidas no beneficiamento da matéria prima, que envolve processos químicos e mecânicos.
Contudo, lembremos que o couro é um têxtil de origem animal, uma matéria prima natural, mas que ainda é altamente poluente do meio ambiente, embora já haja descartes eficazes para minimizar esse problema, além de uma fiscalização severa. Talvez por isso o chamado “couro ecológico” foi criado, como uma alternativa para essa demanda. Pera… faz sentido? Não sei… Precisaríamos de um especialista de ambos os lados pra clarear as ideias nesse ponto.
O que não faz sentido com certeza é chamar esse têxtil de couro sintético. Ou “couro ecológico”, ou ainda dizer “é tipo couro”, porque não é. Couro é couro. O outro é sintético ou PU (poliuretano) e tá tudo bem (piada contemporânea).
Aproveita e espia o lindo trabalho em couro da minha amiga Cíntia Voges e sua Authentica, marca de couro pelica que entrega em todo o Brasil.
Certa vez, no TAG de LUX, fomos visitados por um fiscal de uma associação coureiro calçadista da região que estava se certificando de como nos referíamos aos produtos de couro que eram comercializados ali. Eu estava mais afastada da porta e minha colega o atendeu. Ele não se identificou como fiscal e deu-se o seguinte diálogo:
– Vocês vendem peças de couro aqui?
– Sim, temos essa, e essa.
Ele pegou, tocou e se certificou de que era couro mesmo. Em seguida, perguntou:
– E vocês têm aquelas peças que imitam couro?
– Puxa, no momento não temos nenhuma.
– Certo. E como vocês chamam essas peças?
– PU – respondeu ela prontamente, meio sem entender o por quê da pergunta.
Eu, que já tinha percebido “algo” naqueles questionamentos, sorri, tranquila. Seja lá o que ele tivesse em mente, passamos. Aproximei-me e seguimos a conversa, triunfantes, todos.
O têxtil PU tem essa aparência, o verso é como um tecido mesmo, não como pele de animal. Imagens capturadas da internet.
Hoje sei que era uma blitz, a blitz da Lei do Couro, e estavam em missão de orientar e multar o estabelecimento que respondesse “couro ecológico” à sua 3a pergunta. Quais eram suas prerrogativas?
A Lei brasileira 4.888, de 1965, que proíbe a utilização do termo couro em produtos que não sejam obtidos exclusivamente de pele animal. A sua infração constitui crime de concorrência desleal previsto no artigo 195 do Código Penal, cuja pena é detenção do infrator de 3 meses a 1 ano ou multa. (fonte: cicb.org)
Eu sou muito fã da etimologia das palavras. Gosto de saber o que elas significam, a coisa do dicionário, admiro quem traz palavras diferentes numa conversa e acrescentam novidades ao meu vocabulário – sem ser bossal, claro. Então, nunca vi problema em chamar as coisas pelo seu nome, ainda que eu tenha que reaprender a fazer isso.
E você, já sabia dessa diferenciação?
Como consumidor, há outra grande vantagem em saber diferenciar esses têxteis que vai além da nomenclatura correta: você não compra gato por lebre, ou seja, vai pensar melhor na hora de pagar caro por uma peça de vida útil curta e com menos valor agregado como o PU e vai desconfiar quando o preço pelo couro for muito baixo. Exceto se a compra for ao estilo maravilhosamente sustentável dos brechós e second hands da vida (pega essa dica!)
Não tem melhor ou pior. Basta pensar: meu mundo, valores e bolso combinam com o valor agregado do couro? Voilá! Seja feliz com uma peça que pode durar a vida toda. Se não, tudo bem também. Sua opção pelo PU pode até ser considerada vegana, se for o caso, e terá vida útil mais curta na comparação.
Isso, pra mim, é consumo consciente. SABER o que se está comprando e decidir o que faz sentido no seu universo.
Mas fiquei curiosa, você é team COURO ou PU?
Me conta,
Dallen.