Do VIRTUAL pra vida REAL

Foi no final de janeiro de 2020 que eu peguei um vôo de Portugal com destino à Porto Alegre, levando comigo três malas que carregavam o resto da mudança que não coube nas caixas que meu marido já tinha trazido, algumas semanas antes.

Nossa estadia em Lisboa durou pouco mais de um ano e meio, durante a qual – entre tantas outras coisas – eu decidi mudar de profissão, me formei coach, comecei a atender (ao mesmo tempo em que trabalhava num rolê completamente diferente que também daria pano pra boas conversas entre nós).

A decisão de mudança pra Lisboa tinha sido demorada, ponderada, cuidadosamente estruturada, com todo o cuidado que um passo grande como esse exige. Tínhamos objetivos e desejos claros (alguns alcançados, outros não…). A decisão de volta pro Brasil foi do mesmo jeito, algumas circunstâncias na vida se impõem, e por mais que nós dois tivéssemos nos adaptado rapidamente ao jeito de viver português (e ao mar, e à paisagem lisboeta, e às viagens rápidas de final de semana pras praias do sul ou pro frio do norte, e aos amigos que fizemos), o cenário no Brasil tinha mudado e não era difícil entender que uma mudança mais longa teria que ser adiada pra outro momento da vida.

Planejando a nossa volta, tudo em que eu pensava era que eu voltaria a ficar próxima dos amigos que tinha aqui. Da familia, dos contatos profissionais. Poderia tirar do papel aqueles workshops e imersões que eu vinha planejando sem que fosse preciso encaixá-los em alguma vinda rápida e esporádica à Porto Alegre. Meus atendimentos poderiam passar a ser presenciais.

Morar no Brasil é sinônimo de muita coisa boa (dá mais um texto isso aí…) e a proximidade com os “nossos” é uma das melhores.

Cheguei aqui, tirei umas boas férias em Santa, voltei pra Porto Alegre pronta pra arregaçar as mangas e voltar a trabalhar.

Olha ela no começo de 2020 achando que o rolê já ia passar…

Mas lembra onde comecei esse texto, alguns parágrafos lá em cima? Isso era começo de 2020. Eu não voltaria a ter uma rotina de encontrar nem amigos, nem clientes, nem família, mas eu não sabia disso.

Em algumas semanas eu me veria, junto com o resto do mundo, presa em casa sem previsão de saída.

Nesses 18 meses que se passaram desde que eu ouvi no alto falante o comandante do vôo da TAP anunciando a nossa decolagem rumo ao sul do Brasil, me vi obrigada (de novo, eu e o resto do mundo…) a existir enquanto negócio e profissional, quase que exclusivamente num mundo virtual.

Os cafezinhos que tinham sido combinados com a intenção de me reaproximar de pessoas queridas e importantes, eu tomei – virtualmente. O contato com possíveis clientes à quem eu queria apresentar o meu trabalho com o objetivo de fazer o negócio crescer foi feito, virtualmente. Os cursos que eu queria organizar, lançar, tirar do papel, eu fiz. Virtualmente. E mais importante, os relacionamentos que eu queria estabelecer, nutrir, criar do zero – com pessoas que eu ainda nem sabia quem eram – também fiz virtualmente.

[Umadendo,euvinculoessecansaçomeiocrônicoquemuitasdenósestamossentindoaessemovimentogiganteeexaustivodesereinventarquenosfoiimpostonoúltimoanoepouco.Écomumnãopararmosprapensarmuitoarespeito,maseutedigo:acargafoigrandepratitambémeénormalcansar.]

Mas voltando ao ponto aonde eu quero chegar nessa nossa conversa aqui hoje. Dos relacionamentos que estabeleci do começo dessa história pra cá, a grande (grandessíssima) maioria deles é com pessoas que, por enquanto, ainda não encontrei ao vivo. São conversas, ideias trocadas, e principalmente trocas, conexões e identificações estabelecidas de uma tela para outra.

É por isso que cada vez mais tenho voltado meu trabalho pra isso – ajudar pessoas a comunicar o que são e o que fazem, da maneira a fazer justiça com aquilo que existe de individual, singular, especial, em cada um de nós – pra que a gente consiga traduzir em imagem lá na tela do outro aquilo que realmente somos.

Na semana passada desvirtualzei uma dessas relações. Fui tomar um café com uma pessoa que conheci e com quem tive boas conversas através do Instagram.

Cada vez que isso acontece (não foi a primeira oportunidade de desvirtualização de uns meses pra cá), me pego no caminho pensando sobre a relação que será feita entre a experiência que a pessoa terá comigo ao vivo e aquela que ela já vem tendo, virtualmente. Expectativas são criadas, cada imagem compartilhada gera uma emoção determinada (intencional ou não, mas independe), cada pouco que compartilhamos online é uma promessa do que se pode esperar de nós fora daquele espaço ali, no espaço real.

Os meses de distanciamento nos fizeram inverter (também) essa dinâmica – não se trata mais somente de conseguir traduzir fielmente pra um espaço digital aquilo que realmente somos, mas também de atingir fora dele as expectativas que criamos com a nossa persona virtual.

Já aconteceu por aí de finalmente conhecer pessoalmente alguém com quem o relacionamento se dava só pelas telas e se deparar com aquela sensação de que alguma coisa “não fecha”? Desconfortável né?

Algumas horas depois do nosso cafezinho recebi dessa pessoa uma mensagem cheia de carinho que dizia que a Nina “real” batia com a expectativa que tinha sido gerada pela Nina “virtual” – 98%, segundo ela. Eu ri e disse que os 2% discrepantes se davam provavelmente ao fato de que no Instagram eu não falo palavrão, mas que na vida real eu tenho a boca suja. (Eu uso mesmo desse recurso de linguagem maravilhoso ~ opalavrão ~ pra me expressar com certa frequência kkk)

É claro que eu gostei de receber esse retorno (e ela foi muito querida em compartilhar o sentimento que teve), mas ele só fez reforçar a importância que tem a intencionalidade daquilo que comunicamos (online e offline). Me diga se você também não conhece muita gente bacana que mereceria ter uma presença digital à altura da pessoa – e profissional – massa que é? Eu conheço muitas. 🙂

Saí do encontro feliz, com uma sensação de que o que tem início no virtual não deixa de ser real, sabe? Que bom seria (ou será?) tomar um café com cada pessoa que conheci nesses últimos meses.

O virtual é milagroso, mas a troca cara-a-cara é insubstituível.

Bora tomar um café?

🙂

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