Vocês já sentiram aquela sensação de satisfação com a própria vida? De olhar pra si e pensar: que legal que cheguei aqui, que tô vivendo tal coisa; ou então, que bom que conquistei isto, que construi essas relações; ou, que bom que é ter este trabalho/profissão… já sentiram? Não que seja tudo ao mesmo tempo, mas poder perceber o êxito em alguma área da sua vida e sentir aquele quentinho no coração com uma pitada de orgulho por ter conseguido/estar conseguindo é muito saudável.
As vezes temos esses momentos, frações de epifania em que a alegria nos abraça e nos sentimos gratos e satisfeitos com os rumos da própria vida. Ao mesmo tempo, nosso contexto social por vezes nos arrasta para uma corrida contra o tempo, uma ideia de que se pode ter mais, ser mais, fazer mais. De repente nos vemos no lado oposto, atravessadas por uma sensação de insatisfação generalizada. Já sentiram isso também? A gente começa a olhar para tudo o que não tem, para tudo o que falta, para as lacunas.
Essa semana estávamos num papo aqui em casa sobre o dilema de precisar desejar o que ainda não se tem, pois o desejo é a premissa básica que nos faz mover na direção de certas conquistas, mas ao mesmo tempo ficar satisfeito com o que já se tem, para não entrar num mar de comparações e insatisfações crônicas. Será que dá? Tamo pedindo muito produção?! Hahaha….
O ponto é que é difícil transitar nisto. Há de se olhar para a vida com afeto e reconhecer as milhas caminhadas até aqui. Se permitir sentir a satisfação, a alegria e (porque não?) curtir o comodismo de desfrutar daquilo que já se conquistou. Por exemplo, se você tá construindo uma casa, vai ter uma penca de situações de estresse no caminho, coisas não vão sair como planejado e você vai lidar com certa ansiedade por querer ver tudo pronto. Tudo isso vai no pacote. Mas já sentiu o gosto bom de escolher o piso? Tipo, o teu piso? E daí pensar, “que legal, tô construindo a minha casa”! E aí um dia, sentar no sofá, e por alguns segundos só olhar pro piso admirando porque ficou bonitão. Legal né?
Poderia ser qualquer outra coisa, uma formatura, uma festa de casamento, uma viagem de férias, uma final de campeonato… coisas que você idealizou e quando chega a hora e vivenciar, num lampejo, você percebe “olha eu aqui, fazendo isso acontecer”. Coisa boa entrar em contato com essa sensação de satisfação! Eu gosto desse lugar, e por vezes exercito minha consciência para olhar pra ele e ficar ali por uns instantes.
Algumas pessoas tem muita dificuldade em fazer isto. E nossa sociedade com o discurso mequetrefe de “saia da sua zona de conforto” parece que nem deixa a gente curtir essas coisas. É como se tudo precisasse ser na base da correria e do estresse, do “no pain, no gain” [sem dor = sem ganho]. Mas sabe, te convido a fazer isto de tempos em tempos: Intencionalmente, olhe para as coisas boas da tua caminhada e cata esse sentimento aí dentro de ti. Acho que esse deve ser um dos segredos de viver bem, estar em contato com as partes boas dos processos.
Bom, nem só de flores se faz a caminhada. E a gente vai fazer o que com todo o resto que queremos alcançar? É parte importante também pensar no que ainda se deseja. Mas eu diria que não no lugar da insatisfação crônica (como se nada nunca te bastasse), mas no lugar da potência. De sonhar com o que você pode vir a ser, viver, ter, construir. E olhar pra isso como jornada, não como linha de chegada, nem como condição para felicidade. Creio que o exercício aqui é não sucumbir a tentação de só olhar pro futuro, como se apenas lá a vida fosse acontecer.
Resumindo: Que cada um se exercite entre o querer mais e o estar satisfeito na estrada da própria vida, tentando não descambar para um lado só. Boa sorte queridos leitores! Vou ali na sala assistir uma série, curtindo o apartamento novo, ao mesmo tempo em que penso no tapete e nos quadros que quero comprar pra botar lá, e que ainda não estão lá!
Seguimos!
Por Sara Adaís