Eu não tenho estilo

A conversa de hoje é pra quem já ouviu ou já disse ou já pensou o seguinte:

– “Eu não tenho estilo”

Ok. Senta que lá vem a história:

Era uma vez uma garotinha, lá nos idos anos 80, que cresceu com pai militar e mãe doméstica, rodeada de irmãos mais novos e mais velhos, num lar onde não faltava comida, mas roupa era algo complicado… Ela tinha roupas, claro, mas não podia escolher uma nova, numa loja a seu gosto. Elas vinham das manas mais velhas, das trocas com as primas, de brechós e eventualmente de alguma patroa da sua mãe.

O tempo passou e várias coisas foram moldando os gostos daquela menina: a educação que recebeu, o lugar onde viveu, a escola onde estudou, os livros que leu, as pessoas com quem conviveu… A vida foi tomando seu rumo e um belo dia, já adulta, recebeu de um amigo o seguinte comentário:

– “Te observo há algum tempo, você é sempre tão estilosa”.

E s t i l o s a. Nunca na vida havia pensado em associar aquela palavra à si mesma. Recebeu aquilo como um elogio, foi como um despertar. E começou a prestar atenção àquilo que vestia (na época se imprimiam fotos, era mais fácil analisar, kkk). Conseguiu observar algo que se repetia em seu modo de vestir, parecia ter sempre algo “fora do padrão”, geralmente um detalhe, uma modelagem que fora ajustada, uma calça que fora cortada, um casaco de número maior que fazia servir.

Fazia sentido, não? Como ela não frequentava as araras “prontas” das lojas, precisou aprender a montar, a “garimpar”. E garimpo, senhoras e senhores, vocês sabem como é (ou não sabem?): é o que tem, não, não tem de outra cor, só tem esse tamanho mesmo, nem pensar a manga mais longa, peça única, é pegar ou largar.

Anos mais tarde, outro elogio do tipo despertar, dessa vez de uma cliente que contratara seu serviço de Consultoria de Estilo completa:

– “Procurei a Consultoria contigo porque te acho muito criativa no vestir.”

C r i a t i v a. Que legal! A essa altura você já sacou que aquela garotinha sou eu, né? Amei ter ouvido isso e pude compreender melhor: eu tinha estilo e um dos adjetivos dele era criatividade. Massa!

Veja bem: lááá atrás eu usava o que me vinha à mão para vestir e precisei aprender a fazer uma conexão entre isso e o que eu queria expressar no momento. Se eu sabia o que estava aprendendo? Claro que não.

Mas hoje eu sei e fico feliz com a minha história.

Já não misturo mais botas country com saia godê (evitava usar com calça jeans porque era o que todo mundo fazia, kkk), mas ainda há um quêzinho de misturas inusitadas no modo como me visto. Essa, provavelmente, é uma característica da minha essência que vai me acompanhar de diferentes jeitos à medida que vou amadurecendo e aperfeiçoando meu estilo. Mas sempre estará ali.

Mas estilo não é só a nossa essência, também é a vida que a gente vive hoje. Essa parte é livre e fluída. Pois se mudamos tanto ao longo da vida, porque ele ficaria estático?

Pessoalmente, estou numa fase mais introspectiva agora (bendito autoconhecimento) e isso molda o jeito criativo de me apresentar para o mundo. Qual é o MEU JEITO de ser criativa agora?

Lá no início do texto eu disse que ia conversar com quem já disse/ouviu/pensou o seguinte: “Eu não tenho estilo”. Pois ouça com atenção: sim, você tem!

TODO MUNDO TEM. Porque estilo são escolhas e você as faz todos os dias da sua vida. Elas vão moldando seus gostos, afinando, requintando, modificando, ajustando, temperando… e mesmo que você nunca tenha parado para pensar sobre isso (pelo menos até agora) é possível perceber que há vários elementos do seu estilo hoje que foram trazidos das suas referências lá de trás, de quando você era uma garotinha, um garotinho. Tem gente que foi ensinado a dar valor a coisas que passam despercebidas aos olhos de outros. Há quem teve avós ou tias ou mães donas de um estilo ímpar que exerceram muita influência em sua vida… e assim vai.

Corta pra 2022. Você vai para o trabalho de carro ou de uber? Recebe muitas visitas em casa? Costuma sair para baladas ou festas? Tem filhos pequenos? Trabalha ou mora em outra cidade? O que você lê nas horas vagas? Que tipo de mídia consome? Que tipo de viagem te fascina? Para cada vida, uma veste…

Você tem estilo.

Essa identidade visual em forma de roupa pode não estar clara o suficiente, só isso. Ou ainda, pode não estar sendo mostrada. E esse trabalho de entender quais são essas linhas, formas, cores, volumes e texturas que melhor representam sua essência + sua vida HOJE não é algo superficial. É muito de trazer à consciência, de estudar, de experimentar. Não se afobe. Não se apresse em procurar rótulos. Não tente se encaixar em regrinhas.

A sua história é infinitamente mais interessante porque é única e está sim, presente no seu estilo.

Beijo,

Dallen.

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