Uma reflexão com significado sobre essa data
É março, mês da mulher. Quiseram que fosse apenas 01 dia, mas nós, espaçosas, tomamos conta dos outros 30. A gente é mimada, paparicada e presenteada nesse período como em nenhum outro. Floriculturas ganham mais dinheiro, nossas caixas de mensagem ficam lotadas, nosso whatsapp apita toda hora, abraços e beijos são distribuídos generosamente. Isso é bom, claro, quem não gosta de ter seus desejos atendidos, sua voz ganhando força, suas principais reivindicações tendo apoio da mídia?
Mas nem sempre foi assim.
Houve um tempo em que a mulher não era vista como alguém igual ao homem, no sentido de gênero humano. Dá pra imaginar? Um pensamento ridículo de que a raça humana, criada à imagem e semelhança de Deus, era representada pelo homem somente? A mulher, apenas coadjuvante vivendo à sombra do macho. Estou ironizando quando faço essa pergunta. Claro que dá pra imaginar. Basta lembrar que há 85 anos, a mulher não podia sequer votar no Brasil, um direito básico para o pleno exercício da cidadania. Hoje ainda, não é difícil encontrar essa mentalidade em cidades do interior no nosso país, em pessoas próximas a nós, e talvez em nós mesmos.
A religião foi fundamental para fomentar esse conceito, você sabia? Na idade média, por exemplo, a igreja tinha o pseudo poder de considerar como bruxa a mulher que ousasse manifestar sua opinião. Todos sabemos o que era feito delas. Na religião judaica, havia uma oração proferida pelos rabinos todas as manhãs que agradecia a Deus Todo Poderoso “por não me ter feito mulher”. Em tempos bem mais recentes, as igrejas pentecostais não permitiam mulheres ensinando, tampouco dirigindo reuniões. Você lembra de quando os lugares de homens e mulheres eram separados num culto público? Ah, a religião, sempre estabelecendo diferenças, sempre levantando muros.
Por essas e outras (muitas outras) doutrinas, a História e os movimentos feministas não enxergam a religião com bons olhos. Afinal, quanta atrocidade, preconceito, violência, bulling, etc, foram (e ainda são) feitos em nome de Deus no campo feminino!
A gente também tem raiva dessas injustiças, não têm? Por “a gente”, quero dizer nós, que nos consideramos seguidores de Jesus. Ou, pelo menos, deveríamos ter. E a indignação vem por sabermos que foi justamente o Cristo e seu reino de amor que falou de inclusão, socialização, derrubou muros e redimiu a mulher.
Considere que o próprio filho de Deus, submeteu-se ao ventre de uma delas para vir ao mundo. Se antes imperava o pensamento de que a destruição veio através dela, por ter comido primeiro do fruto proibido, agora ela é bendita pois a redenção também veio por ela. Jesus ressignificou a maternidade, o “ser” mulher. Ele conversou com a samaritana quando nenhum judeu o faria. E não foi um assunto superficial, mas uma das revelações mais incríveis do novo testamento, confiadas a uma mulher : vem a hora e já chegou em que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade. Na ocasião do flagrante adultério, Jesus igualou os gêneros diante de suas responsabilidades para com Deus e para com a sociedade, tirando o foco da mulher, do pecado cometido e colocando-o na consciência de cada um: aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra. Com quem Jesus trocou as primeiras palavras após Sua ressurreição lá no jardim do sepulcro ainda? Com uma mulher. Quanta deferência!
A pauta para essa matéria continha a seguinte pergunta: a mulher pode exercer suas diferentes responsabilidades na sociedade de forma equilibrada? Eu diria que sim, e que a chave para isso é conhecer-se. É saber que papel precisa desempenhar no momento (mãe, esposa, amiga, empreendedora, funcionária, pastora, etc,) e fazê-lo da melhor forma possível. É ter noção de que poucas de nós vamos fazer algo que vai mudar ou influenciar grandemente o mundo todo, mas todas nós vamos sim transformar o nosso pequeno mundo, que inclui família, marido, colegas, grupos, enfim. Agora uma reflexão: diante da igualdade de gêneros para onde a própria Escritura aponta, não seria esse, exatamente o papel do homem também? Penso que sim.
Sempre haverá dificuldades devido às diferenças de funcionamento desses dois modelos, homem/mulher, nada mais natural. O que não pode haver, entretanto, é a falta de respeito e o querer ser dominante sobre o outro. No reino que Cristo veio estabelecer, devemos nos servir mutuamente, independentemente de gênero, classe, cor, ou quaisquer outras particularidades. A vida é maior e deve sempre ser preservada.
Dizem que as mulheres vão dominar o mundo. Não gosto de pensar assim. Prefiro pensar que as pessoas vão dominar o mundo. Pessoas, homens e mulheres, o ser-humano, nós. E que sejam pessoas que queiram e pratiquem o bem. E que estejamos, você eu, arrolados nessa.
Um abraço,
Dallen Fragoso Cardoso
(texto originalmente escrito à convite da revista Cristo é a Vida, 2018)