Na semana passada, pra falarmos do vídeo mais recente do #theBLOGproject (a série no Youtube que a Dallen, a Amanda Baronio e eu bolamos pra nos aprofundarmos um pouquinho mais no assunto autenticidade) fizemos um joguinho de perguntas e respostas, lá no Instagram.
Chegou a ver? São reels, tão nos nossos perfis, acho que você vai curtir!
Num desses a Amanda me mandou a seguinte: as tuas experiências morando fora, conhecendo outros países e outras culturas, como elas influenciaram a tua visão de mundo e a pessoa que tu é hoje?
Me deixou num aperto. Um reels tem no máximo 60 segundos, faço como pra sintetizar?
Não faço né. Dei uma resposta rapidinha lá mas achei que valia trazer pra esse espaço aqui. Aqui sim a gente consegue conversar!
Vambora, começando do começo e contextualizando?
Essas experiências das quais a Amanda fala se devem em primeiro lugar porque eu venho de uma família dividida entre dois países, uma parte francesa e outra brasileira. Eu nasci lá, me criei aqui, passei um tempo lá na adolescência, e o vai-e-volta entre os dois fazia parte da nossa dinâmica de vida enquanto cresci.
Em outras palavras, cresci entendendo que a existência de duas culturas, muito diferentes em diversos aspectos e até similares em outros, não era somente possível, mas sim uma realidade. Cresci entendendo que a maneira como nós vivíamos “aqui” não era absoluta, certeira e a única maneira de se viver, por mais que essa pareça uma verdade quando ainda não fizemos o exercício de parar e pensar a respeito.
Era muitas vezes estar “lá” e ver que até a maneira como se montam as refeições são diferentes. A maneira como uma pessoa se apresenta à outra é diferente. A maneira como os relacionamentos se dão é diferente. A temperatura é diferente, e por consequência a gastronomia é diferente. A maneira como as pessoas se vestem é diferente.
E viver com diferenças, por consequência, faz de nós também diferentes. Não dos outros, mas do que éramos antes. Um pouquinho por vez vamos incorporando aquelas coisas muito legais que encontramos no caminho, e firmando com muita força aquelas que não fecham conosco. Seja “aqui” – ou seja “lá”.
Eu aprendi que o meu valor não se encontra em ser igual (à quem quer que seja), e aprendi também que – por mais únicos que sejamos, sempre (sempre!) vai existir uma tribo na qual vamos conseguir nos enxergar. À qual vamos com gosto querer pertencer.
Aprendi que maquiar singularidades por medo de olhares estranhos não faz com que eu me sinta mais confortável na minha própria pele, mas faz sim com que fique mais difícil do meu grupo (aquela tribo) me achar, porque aquilo que tem potencial pra nos unir não está à mostra. Louco, né? Pensar em apostar nas nossas estranhezas como um elemento de conexão. Mas foi isso que a minha experiência me ensinou.
Mais tarde, com vinte e (bem poucos) anos, tranquei a faculdade e fui passar dois semestres na Inglaterra. Lá eu aprendi (pra minha surpresa, na época) que eu gostava de ter contato com pessoas. Com muitas pessoas, o dia todo. Eu servi mesa, era garçonete num restaurante que à noite virava bar – e aquele bar lotava. Eu aprendi a carregar muitos pratos ao mesmo tempo, a pegar pedido de cabeça. Aprendi o que faz com que as pessoas se sintam acolhidas num lugar, aprendi que um sorriso ajuda sim e muito quando se procura criar uma conexão rápida com quem quer que seja.
Aprendi disciplina de trabalho e aprendi a trabalhar em grupo. Servir mesa não é moleza não.
Aprendi também que os ingleses sabem fazer festa. Trabalhei, trabalhei, trabalhei, me diverti, e vivi uma sensação de liberdade que só os vinte e poucos anos e uma casa compartilhada com um bando de estudantes te dão.
Eu nunca suspeitaria o valor que essa experiência teria, muitos anos mais tarde, no momento de trabalhar num empreendimento próprio.
E de novo, aprendi que não existe jeito certo de se viver. Os ingleses vivem de maneira diferente daquelas que eu já conhecia. E a mesma coisa os americanos, e a mesma coisa os portugueses.
Aprendi que assim como existe a maneira “deles” de viver, existe também a nossa. A de cada um de nós. E que ela pode ser construída à medida que vamos nos conhecendo melhor.
Mas é claro que eu não quero que esse papo se finde naquilo que eu já passei. Falar de si (quando é pra trocar experiências e gerar conexão) é legal mas só até certo ponto. Legal de verdade é trocar.
As experiências que eu tive, por circunstância do que foi a minha vivência particular, por acaso me levaram pra alguns lugares diferentes, mas transitar por diferentes espaços geográficos não é requisito absoluto para que nos deparemos com diferenças. Quantos “mundos” diferentes a gente não vive muitas vezes sem sair de uma mesma cidade?
Famílias são mundos e têm culturas muito particulares. Os diferentes grupos de amigos pelos quais transitamos, também. O nosso mundo profissional… mais um aí.
Todos esses nos dão oportunidades de aprendizados, todos esses têm aspectos aos quais queremos nos abraçar e incorporar à pessoa que somos, e todos esses também tem características que não queremos, de jeito nenhum, levar pra dentro de casa. Ou pra dentro de nós.
Já parou pra pensar, em cada um dos seus “mundos” como um lugar diferente? O que de cada um você faz questão de abraçar? E do que não quer se apropriar?
Eu vou amar te ouvir. Compartilha aqui comigo nos comentários, ou lá no post do Instagram.
Tô te esperando!