“Quem vê close, não vê corre”

Quem vê close, não vê corre. É o que diz o ditado da galera xóóóvem, sinalizando de um modo bem pertinente que por trás de um recorte bem enquadrado de uma realidade, há muito mais trabalho do que se pode imaginar.

Essa semana vimos muitos “closes” de casal, de puro romance, declarações e fofura no Dia dos Namorados. Esses momentos são bem legais! Eu, particularmente, adoro uma comemoração de data clichê. Mas, já que na última segunda-feira foi dia de “close”, na sexta-feira eu vou falar do “corre”!

Gente, não se iludam: um relacionamento saudável dá trabalho. Essa coisa idealizada de se entender no olhar, de tudo fluir magicamente, de tudo se encaixar perfeitamente, vai só até a pagina 2. É praticamente impossível ter um relacionamento romântico de longo prazo sem nunca viver uma crise, sem nunca precisar discutir algo na relação, sem ter de flexibilizar, sem se frustrar, sem ter que tolerar defeitos. Como diria o padre Quevedo “Isso non ecziste”!

Então, aqui vão algumas considerações pra gente pensar sobre o “corre” do dia-a-dia de se relacionar. Só pra gente não perder de vista umas coisinhas, ok?

Primeiramente: às vezes a pessoa que tá errada na situação é você. Acho que isso é um negócio que a gente tem que ter bem em mente sabe? Porque vai que dá um branco na nossa cabecinha de ser humano na hora da treta e aí a gente começa a crer que é o único ser digno de ter a razão… quem nunca né? Hahaha…

Você pode ser uma ótima pessoa e, ao mesmo tempo, falhar miseravelmente numa determinada situação. Às vezes tu que tava viajando na maionese sim! Às vezes tu tava fazendo uma interpretação que não tinha nada a ver com o que a pessoa estava querendo te dizer e tem que parar de “loquiar” (não tem essa palavra no dicionário, mas deveria! kkk). Eu sei que pode ser uma baita ferida no ego a gente desistir de tentar argumentar nossos motivos e reconhecer que fez cagada, mas isso muitas vezes é a coisa mais sábia a ser feita. Eu gosto desse viés da sabedoria, pois realmente não quero ser a pessoa incapaz de enxergar os próprios defeitos ou reconhecer os próprios erros. (Na verdade eu detesto esse tipo de gente! #Deusmelivre!) Então, no “corre” do relacionamento, sugiro de tempos em tempos ter a coragem de se fazer perguntas honestas: “Será que estou errada/o? Onde eu to errando aqui?”

Segundamente: às vezes não tem um certo ou um errado. Eu apostaria que 95% das tretas nos relacionamentos – que a gente poderia classificar como saudáveis (não to falando de relacionamento abusivo, ok?) – se encaixam aqui. É mais sobre aquela história de perspectiva, sabe?

Nesse quesito, acho que o ponto é exercitar olhar por outro ângulo. A pessoa com quem tu te relaciona tem uma vida, uma história, uma porção de aprendizagens, uma cultura familiar, uma personalidade, enfim, uma porção de coisas que já existiam antes de ti. E tudo isso veio junto, no pacote. Me parece que quando a gente olha para alguns comportamentos com menos julgamento, tentando pensar no contexto daquela pessoa, a gente também consegue desenvolver um grau maior de aceitação das diferenças. Então, sugiro de tempos em tempos se perguntar: “Como costumo lidar com as nossas diferenças? Será que alguém está mesmo errado nessa situação ou é só uma questão de perspectiva diferente?”

Lembro de uma situação em que eu reclamava repetidamente que o Jonas (o moço com quem casei) estava sendo muito “lento”.  Um dia ele me questionou “Tu já cogitou que do meu ponto de vista é tu que tá acelerada?” Hehehe… Pois é, eu não tinha cogitado! E sim nós temos tempos diferentes para aquele tipo de tomada de decisão. No final, ninguém estava propriamente errado. E eu tive que pisar no freio um pouco. E ele pisou no acelerador um pouco. Pra daí a coisa andar melhor.

Terceiramente: às vezes o errado é o outro e existem formas assertivas e formas não assertivas de comunicar isto. Costumo falar pros meus pacientes que acredito que podemos dizer qualquer coisa, desde que saibamos como dizer. Se tu escolhe dividir a vida com alguém, nesse nível de intimidade que um relacionamento afetivo requer, precisa aprender a se comunicar respeitosamente com esse outro ser humano. Não é porque o outro está errado que você tem o direito de ser um completo babaca e tacar tudo na cara, movido na força do ódio. Então, no “corre” da tua relação, sugiro de tempos em tempos se perguntar: “Como eu poderia dizer isso de um jeito melhor? Será que estou me expressando bem ultimamente? Tem algo que eu posso melhorar na minha comunicação?”

A verdade minha gente, é que um bom relacionamento não é bom e leve o tempo todo. A ideia é que seja assim na maior parte dos dias, mas não será em 100% dos dias. No fim das contas, acho que esse texto é sobre olhar pra hashtag #metaderelacionamento nos posts de fotos de casais que você admira com olhos mais realistas. O romance é ótimo, uma delicinha, mas não é tudo. Uma relação saudável exige muita abertura, observação, conversas, investimento de tempo e energia. E tu não precisa querer isso, pode ficar na solteirice bem de boa, que é massa também. Mas se tu quer o “close” real de casal, de parceria, daí vai ter que encarar o baita “corre” que é construir uma relação. E nem sempre o corre vai funcionar, porque é um corre que não dá pra correr sozinho, o que significa que às vezes tu até te engajou, mas o outro não, e aí não rolou. Acontece!

E por aí, tu tá no time que encara o “corre” do teu relacionamento como parte natural da vida? Ou no time que tava se iludindo achando que dava pra viver só de “close”? Hahaha….

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