Já se pesou hoje? Já se olhou no espelho, sem roupa, virou de costas, olhando por cima do ombro, com aquela visão crítica de si mesma, buscando cada “defeito”? Já tomou seu café da manhã (ou nem tomou), com culpa e com medo do pão e das tentações que você deveria desviar ao longo do dia pra que não engordasse?
Arrisco dizer que assim inicia o dia a dia de muitas mulheres. Eu disse inicia, não para por aí. Falo isso de um lugar de alguém que deu start num processo de emagrecimento por ser ver em uma foto e tomar um susto. Até aquele momento, tenho a impressão de que eu nunca havia cogitado que meu corpo poderia ser um problema.
Já havia tido problemas com a minha imagem, sim, se rolar este blog verá os meus textos sobre autoestima da infância e adolescência, histórias envolvendo nariz e tudo mais, mas o corpo em si, nunca foi uma questão. Meio que eu existia sem esse peso, e nesse caso, falo do peso mental, da auto cobrança, que algum tempo depois fui entender que pode ser bem mais pesado do que o físico em si.
Comecei sem nenhum tipo de orientação. O famoso: por minha conta e risco. Fazendo exercícios em casa e cometendo o horrível ato de COMER POUCO e CORTAR CARBOIDRATOS. E eu sempre adorei comer. Muito e carboidratos.
Não demorou pra começarem os episódios de compulsão alimentar. Nunca vou esquecer do dia em que minha mãe preparou um doce maravilhoso que chamei de cuca 2.0.
Era tipo um bolo cuca, mas mais parecido com uma torta redonda, com a base de massa, o recheio de creme e o topo com aquele açúcar que tem na cuca. Perfeição da natureza.
Eu comi um pedaço, já com culpa. E queria muito comer mais. E comecei numa batalha interna. E comi mais um pedaço, e mais um, e mais um, até ficar com dor de barriga. E mais culpa.
Nesse caminho meio torto, eu emagreci 10kg. Que não me deixavam satisfeita com meu corpo, oscilavam com muita facilidade, me geravam uma ansiedade absurda todos os dias pelo medo de regredir e no fim, em poucos meses acabei engordando quase todos eles novamente.
Entendi que aquilo não funcionaria, então decidi ir pra musculação (ao lado de casa tinha uma academia) e buscar uma nutricionista. Ali eu tive uma virada de chave, com orientação profissional de fato, comecei a fazer algo que era SUSTENTÁVEL. Na nutricionista, descobri que comia muito menos do que meu corpo precisava, sendo assim, ele estocava a gordura. Lembro que pensei: não é possível emagrecer comendo tanto. Mas paguei pra ver. A musculação, algo que divide opiniões, já que muitas vezes o ambiente da academia pode ser desagradável e há quem não goste de “levantar peso”, se tornou algo que fazia bem para o meu mental e eu me sentia FORTE.
Um processo que antes era totalmente voltado para um número e para a estética, passou a ter espaço pra outro motivador: o bem estar, o sentir. As cobranças com o corpo continuaram por bastante tempo, anos. Assim como a pressa. Tive objetivos de percentual de gordura baixíssimos que atingi a muito custo e disciplina e a reflexão que tive foi: “então é isso?”
Minha barriga continuava lá me incomodando, a vida cotidiana, o trabalho, os problemas, também. Eu já estava num ponto em que precisava comer quantidades desconfortáveis de comida, pra assim, aumentar massa muscular, e aquilo passou a parecer mais com um fardo e perdeu o sentido.
Senti que já tinha autonomia pra comer intuitivamente, então eu ia seguir de maneira saudável, treinando e sem um objetivo específico relacionado à estética do meu corpo. Também me muni de boas referências, acompanhando nas redes sociais profissionais e pessoas que se comprometiam em mostrar uma rotina saudável e sem terrorismo nutricional.
Já fazem quase 9 anos desde o início dessa história e há 2, através do esporte puder ter o contato mais profundo com essa outra percepção sobre o corpo. A de que ele pode servir pra nos levar a lugares inimagináveis, de que o nosso valor não deve, de maneira alguma, ser associado à nossa aparência, pois nosso corpo pode ser ferramenta pra potencializarmos nossa vida, nossa autoestima como seres capazes!
De irmos gradativamente superando nossos próprios limites, nos tornando mais fortes, mais resilientes. Como uma consequência, temos sim um corpo que agrada esteticamente, só que isso já não importa mais como antes.
Acredito que minha paz em relação à minha aparência não está associada à minha imagem corporal em si, afinal, uma pessoa que depende da aprovação externa de um padrão, nunca estará satisfeita, mas está sim, ligada ao fato de eu me desconstruir ativamente e escolher não dar importância para a minha barriga que tem um pouco de gordura, por exemplo, mas que se lasque. Minha mente vai pra outro lugar: “Olha tudo isso que eu estou conquistando graças ao meu corpo? Olha como é maravilhoso SE SENTIR ASSIM, bem com quem a gente é, com o que a gente faz e pode fazer.”
Tudo foi questão de tempo e de direcionar a energia pra aqueles pensamentos e objetivos que ao invés de me aprisionar, me potencializavam ainda mais. As cobranças estão aí, elas existem: pra perna que não está depilada, pra manicure que não está em dia, pra idade que chega e nos aproxima de um lugar de invisibilidade (outro assunto esse, né?). A questão é, seu corpo serve pra quê? Pra quem? Toda mulher merece ter paz e espaço mental pra se dedicar ao que realmente importa pra ela, não ser refém de padrões inatingíveis ou de expectativas alheias. Lutar pela mudança dos padrões é importante, mas é cansativo, então o melhor caminho ao meu ver, é fazer pela gente e mudar internamente primeiro.
Espero que este texto traga um pouco de leveza por aí. Menos culpa, por favor. ♥
Meu Instagram: @amandabaronio