Foi na quinta-feira passada que eu juntei em duas malas tudo o que precisava, carreguei o carro (bem carregado), fechei a porta de casa e saí pela primeira vez pra passar alguns dias longe da rotina que se instalou nos últimos seis meses, desde a chegada do meu pequeno.
Ou saímos. Na verdade todo esse primeiro parágrafo poderia ter sido escrito no plural. Eu não saí sozinha, nem arrumei as malas sozinha e nem carreguei o carro sozinha, foi tudo feito em conjunto, e marco esse fato porque a quebra da rotina se instituiu de fato – mas tem algumas coisas que não mudam nunca (e que bom…).
Hoje a contagem marca o quarto dia de férias (você me lê talvez na quarta-feira, dia da publicação desse texto, mas eu escrevo na segunda, dois dias depois da farra do Natal), e não foi preciso mais do que esse pouquíssimo espaço de tempo pra que eu me conectasse com o que de mais precioso existe nesse limbo que se cria onde os dias passam devagar, onde o descanso é emendado com mais descanso, onde as conversas são infindáveis, onde o pensamento vai longe e onde o horário se perde – esse limbo que chamamos de férias.
Isso, que pra mim é o que existe de mais precioso na pausa, é o distanciamento.
O distanciamento não só das nossas demandas de trabalho, dos nossos prazos, das tais metas, objetivos, estratégias, daquele olhar constante pro desempenho e pras conquistas, mas também o distanciamento da nossa própria vida corrente. Esse distanciamento é valioso.
Eu vou te contar como acontece pra mim, e tenho interesse genuíno em saber se pra ti é assim também.
Passado os primeiros dias de descanso, onde impera o “meu deus: dormir, comer, preguiça, família, vida linda”, quando eu já desconectei da necessidade de acordar na mesma hora e das entregas que já foram entregues, eu me vejo embarcada num movimento de conseguir olhar com muita clareza pra vida que eu ando levando. É assim que funciona, né? É o distanciamento que nos permite enxergar “o quadro todo” com mais nitidez.
Junto com a calma das férias me é entregue quase que como um presente a capacidade de fazer um balanço de como as coisas andam, quase uma prestação de contas mesmo, entre eu e eu mesma. De um jeito muito leve, não me entenda mal – a régua pesada pra mim (aquela que nós mesmos usamos pra medir o nosso “desempenho”) recai sobre outras coisas da vida, não sobre esse ponto em específico.
Aqui não é pesado, antes pelo contrário. Eu tenho clareza sobre o tipo de vida que quero viver, a maneira como eu quero me relacionar com quem me acompanha nas mais diversas esferas da vida, tenho clareza sobre os resultados que eu quero ter com o meu trabalho, e nesse momento tão precioso no qual eu consigo chegar no distanciamento necessário pra olhar com calma pra maneira como as coisas vão indo, o meu desejo mais profundo é que, quando necessário for, eu consiga ajustar o que é preciso pra seguir alinhada com aquilo que sei ter mais valor. Existe muito carinho nesse olhar.
Mais de uma vez, e já escrevi sobre algumas dessas vezes aqui mesmo no blog, fiz ajustes no caminho que seguia. Alguns grandes e assustadores, outros, coisa de uma empurradinha pra um lado e pro outro, pras coisas se encaixarem melhor.
Foi inclusive tendo contato, criando amor e entendendo a importância desses movimentos que escolhi levar como profissão esse lance de ajudar pessoas a encontrarem os espaços que realmente desejam ocupar nas suas vidas profissionais.
É muito difícil (mas não impossível) fazermos esse movimento sem um certo recuo, e já que a circunstância me permite nesses últimos dias um olhar calmo, tranquilo e claro, eu tomo a liberdade de dividir contigo algumas das coisas que andam me passando pela cabeça, topa?
Número 1: O barulho é alto e só vai aumentar.
Que barulho? O das redes. O das redes sociais.
Fazer o exercício de dar um mute nesse barulho nos ajuda a perceber exatamente isso: o quanto ele é alto. Te propõe, se o trabalho permitir, te desligar da conversa toda que rola lá só por um tempinho, e depois me conta se depois de dois ou três dias sem contato a primeira sensação ao voltar não é: meu deus que gritaria. Muita gente chamando muita atenção com uma sensação de muita urgência o tempo todo. Não é uma crítica, eu sou uma usuária feliz das redes sociais, mas o silêncio de uns dias sem elas tem muito valor e faz pensar.
Número 2: A qualidade dos meus relacionamentos dita a qualidade da minha própria vida
Aqui entra todo mundo. Família, amigos, clientes, parceiros. São os relacionamentos que temos que nos abastecem (pra bem ou pra menos bem), que nos levam a pensar sobre alguns assuntos em detrimento de outros, que ocupam as nossas horas, que nos incentivam a questionar nossas próprias regras e expandir nossa zona de conhecimento. Que nos fazem sentir um peixe fora d’água ou um passarinho abrigado num ninho. A minha vida é boa na proporção em que eu consigo nutrir meus relacionamentos com os valores que são caros pra mim. Essa é uma verdade fácil de escapar na correria do dia-a-dia.
Número 3: O espaço aberto me faz bem (um lembrete bem grande aqui, esse ponto eu tenho facilidade de esquecer)
Computador, celular, apartamento, horário, agenda, listas e listas e listas – tudo normal, faz parte da vida adulta e ativa, mas sempre que o bonde da rotina escapa e o relógio permite eu me lembro: espaços abertos me fazem bem. Tipo estender o tapete no sol, sabe? Areja. Faz a gente lembrar que o mundo é grande e as possibilidades são numerosas. Faz lembrar também que quase tudo pode ser mais simples do que a vida corrida insiste em dizer que é.
Por enquanto é por aí que a minha cabeça tem andado, e eu sou grata de verdade pela oportunidade de dividir contigo essas reflexões, sem pretensão de conclusão.
Eu não sei como andam as tuas férias, se elas também acontecem agora ou não, e muito longe de mim te dar tarefa pros dias de descanso, mas:
Se tiver alguma coisa passando pela tua cabeça que quiseres dividir conosco, eu vou amar ouvir, de verdade. Tenho certeza que a Dallen e a Amanda também. Deixa aqui nos comentários ou lá no post do insta.
Vou tá esperando!
Um beijo grande,
Nina.