Análise visagista das protagonistas da série
TMS (The Morning Show) é uma série do streaming Apple que se passa em NY e retrata os bastidores de uma rede de TV fictícia, a UBA. A história tem vários personagens muito bem construídos, envolvidos numa trama inteligente. Minha ideia é focar nas 02 principais, cujas atrizes você conhece: Reese Witherspoon e Jennifer Aniston.
Será uma leitura absoluta e completa? Não. Tenha em mente que esse recorte que fiz da trama e do figurino é só a parte que eu escolhi trazer, sob o meu filtro de consultora de estilo e visagista Philip Hallawell.
Vamos?
Jen é Alex Levi, âncora do jornal principal da emissora, o The Morning Show. Há 15 anos ela divide a bancada com seu parceiro de trabalho, Mitch Kessler (o sensacional Steve Carrel). Tudo vai muito bem até que Mitch é acusado de assédio sexual e o fato desencadeia uma série de acontecimentos que vão costurando praticamente todos os personagens.
Genial é que o programa fictício vai abordar o movimento do mundo real “Me Too”, que iniciou nos EUA na época e, segundo li, serviu de base para o enredo. No desenrolar da história vemos a potente cultura do silêncio na empresa, uma vez que todos sabiam ou desconfiavam do que acontecia nos bastidores, mas eram coniventes, inclusive a própria Alex.
Esse ponto é importante: o roteiro não transforma sua protagonista em heroína, tampouco em vilã. Pertinente para parar e refletir: quem é conivente com o erro alheio, quem fecha um olho para acontecimentos duvidosos debaixo do próprio nariz é vilão ou mocinho?
A trama não responde (nem eu, tampouco), mas vai apresentando zilhões de coisas intricadas pra fazer a gente pensar. Sabe “estrutural”? A cultura do silêncio e do assédio são estruturais. Certos comportamentos estão tão arraigados naquela corporação – e nas pessoas – que só faltava constarem nos autos oficiais do RH… Mas no papel é tudo ao contrário, não é? Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência…
Pois bem, a 1ª temporada se move em torno da demissão de Mitch Kessler e da iminente ascensão de Bradley como âncora ao lado de Alex.
Alex é uma mulher inteligente, bem sucedida e tem muita credibilidade. Seu universo é basicamente o trabalho e suas implicações sociais. Mas de uma forma muito sutil, parece orbitar ao redor de Mitch. Suas roupas são impecáveis. Pense em corte, acabamento e caimento perfeitos. Nada está sobrando, amassado ou fora do lugar. Interessante que antes da demissão, vemos blusas com laços, seda e cores terrosas, sugerindo feminilidade. Após a demissão, quando ela se dá conta de que está só e por muito tempo foi subestimada, aparecem linhas mais retas nos casacos, golas altas, coletes, cores escuras. As roupas servindo para reforçar a ideia de força, autoridade e… defesa.
E esse macacão vermelho i n c r í v e l ?
Há uma premiação importante e Alex será reconhecida, é a pessoa mais importante da noite.
Vermelho é a primeira cor que lembramos e a última que esquecemos. Well done, Alex! A nuance quente e aberta reforça a energia masculina da cor (força, combate, poder) essenciais pra ela naquele momento. Mas vermelho não é sensualidade, paixão e perigo? Também. Mas como a forma é mais importante que a cor, a profusão das linhas retas (bastante tecido, nada justo) equilibram o poder de avanço da cor, o jeito Alex de ser.
Para pensar: teríamos uma mensagem diferente se a peça fosse de um ombro só em vez de tomara que caia? (escreva nos comentários!) Ah, a mesmíssima cor ela usou para anunciar – na cabeceira de uma mesa cheia de homens – que agora estaria no comando de seu show. Só que de trench coat, para reforçar sua posição contra o patriarcado.
No momento em que escrevo, a 2ª temporada ainda não acabou, então vamos acompanhar como a personagem se desenrola na trama. Por enquanto, ela mantém cores neutras como cinza, bege e preto em combinações monocromáticas, fazendo jus ao seu momento atual de não saber ao certo quem é ou o que busca, mas sem perder a pose. Come on, Alex, reaja! Dress red again!
Reese é Bradley Jackson, jornalista de uma cidade bem menor que NY, descoberta pela UBA quando um vídeo seu esbravejando numa entrevista viralizou nas redes. Justo quando Mitch havia sido demitido e precisavam de um novo parceiro/parceira para dividir a bancada com Alex.
Sabe 02 pessoas completamente diferentes? Bradley e Alex. Ainda bem que o figurino ajuda a contar dessas diferenças!
Bradley é passional, não leva desaforos pra casa e parece não se importar com a opinião alheia. Prima pela verdade e paga caro por não se adequar ao main stream.
No início da trama ela usa muito sua jaqueta de couro. O couro é um têxtil que transmite força. É impermeável, é forte, resistente. Passa bem a ideia da Bradley aguerrida e desbravadora que vemos a seguir.
Ela usa cores coloridas, sugerindo acessibilidade e mais ousadia em relação a sua parceira de bancada, porém, em tons sempre escuros e sólidos (não estampados), pra passar um certo distanciamento.
Observem esse look nada Bradley aqui. Foi quando tentaram fazê-la a nova queridinha da América, tipo uma personagem perfeita para “compor” o jornal. Não funcionou, né? Linhas curvas e arredondadas são acessíveis demais para sua personalidade.
Seu cabelo foi uma transformação icônica para a 2ª temporada. Quando iniciou, seus cabelos eram escuros e ligeiramente avermelhados, sugerindo alguém intensa. Agora vemos os cabelos bem mais claros e compridos. Por que será? Alerta de spoiler inevitável: ela precisou assumir a bancada sem Alex, o que de início lhe causou surpresa, mas em seguida casou com sua ambição e talento, ou seja, ela gostou de assumir. O que ela fez foi se adaptar rapidamente a um visual mais acolhedor, solar, envolvente. Observe e diga se seus cabelos não colaboraram para isso? Observe também que nunca estão lisos, lisérrimos, sempre há ondas, sugerindo envolvimento, lirismo.
Nesse ponto podemos ver como Alex é diferente. Suas madeixas estão sempre com os fios exatamente no lugar, sempre arrumados, escovados, prontos, sugerindo alguém mais assertiva, que gosta de controle absoluto. Exceto, claro, quando esse controle foge, aí vemos um pouco desgrenhado… pero no mucho.
Ainda sobre Bradley, bem interessante observar como a personagem evolui para novas e inusitadas descobertas sobre si mesma (alô romance!) e em como esse visual mais approach nos ajuda a sentir melhor essa fase.
Ficou curiosa(o)?
Corre pra ver a série e me conta se você percebeu isso e quais outras coisas você percebeu! E lembre-se: nosso comportamento, looks, cabelo e maquiagem podem nos ajudar a contar a história atual da nossa vida (a parte que desejarmos, claro). Não é demais?
Dallen.