Um apanhadão pessoal

Abro o computador, a xícara de café do lado, na mão a caneta e embaixo dela a folha de papel em branco.

Eu tenho um deadline e ele é curtíssimo. Amanhã sai texto meu no blog e é esse texto que eu tô tentando, agora, tirar da cabeça.

Normalmente não é assim que acontece. Normalmente eu tenho um assunto em mente, um ponto que eu quero tratar ou no qual eu quero chegar, e a parte mais trabalhosa é sentar e escrever, mas hoje não.

Passei os últimos dias tentando entender qual é o assunto que eu quero botar no papel e não me veio nada. Pensei até em ir lá no grupo que tenho com as gurias (A Dallen e a Amanda) no WhatsApp e lançar um “me digam aí sobre o que cês querem que eu escreva“, mas não fiz porque parte do trabalho é justamente fazer essa filtragem de ideias prévia, e eu me sentiria passando uma parte da tarefa pra elas.

Agora com o papel e a caneta na mão, me perguntando que branco é esse e da onde ele vem, faço o exercício de repassar mentalmente minhas últimas semanas.

Eu me sinto cansada. Bem, mas cansada.

Na semana passada um resfriado me pegou, coisa que não acontecia à bem dizer faz quase dois anos (o isolamento em função da pandemia ajudou), eu me assustei pensando que podia ser Covid, repassei mentalmente cenários nada divertidos nos quais eu teria que ficar separada do resto da família – leia-se do meu pitoco – durante dias, numa antecipação que o teste negativado mostrou ser completamente desnecessária.

O trabalho vai bem, muito bem, graças a deus, e quanto a ele a única ansiedade diz respeito ao desequilíbrio entre a quantidade de coisas que eu queria fazer e o tempo disponível pra fazê-las.

Tudo tem seu tempo e seu momento, mas o freio meio puxado me força a exercitar uma habilidade que eu não tenho lá de sobra, que é a paciência.

Lembrei agora da leitura que a Dallen, num trabalho de Visagismo, fez a respeito do meu temperamento: determinada, persistente, objetiva, comunicativa. Em nenhum momento a palavra paciente apareceu. (Tem um gancho aqui: no insta fiz um post mais detalhado sobre essa experiência. Se quiser dar uma olhada, vai lá clicando aqui.)

Mas voltando, tive uma conversa boa com uma amiga, mãe de uma bebezinha recém-nascida, sobre as expectativas que colocamos em relação à nossa performance nos mais diferentes papéis que desempenhamos nessa vida.

Nos perguntamos se na época em que nossas mães nos criaram os questionamentos eram os mesmos, chegamos à conclusão de que provavelmente não.

Os papéis naquela época eram mais rígidos, cada gênero (homem, mulher) tinha caixas mais fechadas nas quais se encontravam (ou se encaixotavam) e a liberdade (de agir, de pensar, de falar, de ganhar dinheiro, de trabalhar), conquistada por gerações de mulheres que nos precederam e a qual usufruímos hoje, não existia dessa maneira naquela época.

Provavelmente os questionamentos não eram não, os mesmos, e eu agradeço por isso e pelo trabalho social (no sentido de “transformar a sociedade”) de cada mulher que já foi vista como inconveniente, durona ou ingrata, pra que eu hoje possa me fazer questionamentos que são diferentes daqueles que se fazia há 35 anos atrás.

E eu, que não sabia sobre o que escrever quando botei a caneta no papel, me vejo escrevendo sobre questionamentos.

Apropriado, diria. E mais ainda: no lugar certo.

Porque nossa proposta aqui nunca foi a de trazer respostas que não temos, mas sim de abrir um espaço pra trocas e conversas. E como a gente só troca o que tem, hoje eu trago isso: um apanhadão mais pessoal.

Somos múltiplas, lembra? Os papéis que não são ligados à atuação profissional também merecem espaço pra respirar. Olha eles aqui, respirando 🙂

Então, nessa quarta-feira de verão, o meu desejo é que tu também dê espaço de respiro pra questionamentos e incertezas, sabendo que (por mais que nem sempre seja o que vemos e mostramos por aí) todas nós somos feitas, em parte, por elas.

Um beijo com carinho, pronta e disposta a trocar uma ideia,

Nina.

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