Não sei como aconteceu pra vocês mas eu, enquanto crescia, muitas vezes era tomada por uma sensação de que algumas das pessoas à minha volta não eram exatamente aquilo que mostravam ser.
Ou então, que elas usavam de alguns artefatos à disposição pra se ver – aos olhos dos outros – talvez mais interessantes, mais valiosas, mais importantes, do que achavam que eram de verdade.
Esses artefatos variavam. Às vezes eram viagens, às vezes os idiomas que falavam, às vezes as pessoas que conheciam, às vezes o dinheiro, pura e simplesmente.
À mim parecia (quando bem nova) mais do que estranho. Parecia feio. Parecia errado, me causava vergonha (a alheia). E assim eu cresci entendendo que quem é alguma coisa (interessante, inteligente, preocupado, útil pro mundo à sua volta), não precisa sair falando de si e muito menos do que faz.
Não precisa pedir a atenção do outro à alguma coisa sua, não precisa deliberadamente ter um discurso que defenda ou então (vish!) promova a sua causa. Por mais legal que essa causa seja.
E assim fui viver minha vida, entendendo que se eu fizesse a minha parte, fosse séria, responsável, esforçada e consistente naquilo que fizesse, então de alguma maneira meu trabalho seria notado e meu esforço recompensado. Eu não precisaria, nunquinha, levantar a minha própria bandeira ou então criar um discurso pra te convencer a querer conhecer aquilo que eu fazia.
Falar de si, chamar a atenção, usar daquilo que somos ou fazemos para beneficiar uma causa própria, era ruim. Eu aprendi isso bem cedo e de jeito nenhum ia esquecer dessa lição.
Até que…
Até que o mundo mudou.
Quando eu saí da faculdade e dei meus primeiros passos profissionais as redes sociais já existiam. Era o lugar onde a gente ia pra conversar com os amigos, postar foto de família e dos cachorros, como hoje. A diferença é que “trabalho” a gente fazia fora delas.
Eu tive um escritório de arquitetura e esse escritório tinha um perfil no Instagram. Fui sócia de uma empresa de gastronomia e essa empresa tinha um perfil no Instagram. Mas em qualquer um dos dois, procure o quanto quiser, e não encontrarás vestígios da pessoa por trás daqueles negócios.
Eram “negócios”. Com objetivos, valores, clientes, uma missão no mundo. Mas ninguém à vista pra (virtualmente) assumir a empreitada. Maluco pensar nisso hoje né?
A separação entre negócio e pessoa se dava justamente porque eu tinha aprendido a lição: a autopromoção (mesmo profissional) é negativa. Está vinculada à uma necessidade de chamar a atenção que não combina com alguém que de fato se propõe a fazer um trabalho sério.
Mas então, como eu falei, o mundo mudou.
A mudança veio rápido e nos vimos mais e mais usando o espaço digital pra integrar à nossa identidade aquela parte que não é só lazer, que não é só família. E eu me vi – há alguns anos atrás – tendo vontade de expressar (de comunicar!) essa parte de mim nesse espaço também.
Me vi tendo que olhar pra essa crença tão bem firmada em mim e entender o quanto ela de fato me servia e quanto (tcharãn…) ela na verdade era escudo pra uma coisa da qual por mais que negasse eu sentia um medo real e presente: o julgamento do povo que por ventura me visse. Será que muito não era medo de que usassem, pra me medir, aquela mesma régua que eu usei pra medir outros tantos ao longo do tempo? Claro que era. Ficou mais fácil depois que eu enxerguei.
Mas entre enxergar e agir, entre entender e praticar, existe todo um caminho. Existe uma série de desafios (internos e externos) a serem superados. Geralmente se trata de uma prática diária, de desconstruir tijolinho por tijolinho daquela parede alta que construímos em torno de nós.
Eu quero muito conversar com vocês sobre os passos que podemos dar para estarmos 100% presentes na nossa vida profissional e nos apropriarmos de todas as ferramentas que se encontram à nossa disposição pra fazer isso. E também sobre como foi a construção disso pra mim.
Mas hoje eu fico por aqui com o desejo de que essa reflexão sirva pra de alguma maneira te impulsionar a deixar pra trás as crenças que já não fazem mais sentido, em benefício de uma vida mais leve e mais feliz.
Um beijo e até logo,
Nina.